Retorno a uma das minhas ocupações desesperadas. Consultar as previsões para a evolução do estado do tempo. Tornei-me um amante da meteorologia. O calor retornou e o corpo, miserável e incapaz, protestou, recusando-se a grandes pressas. O pior, contudo, é o cérebro. Sinto-o empapado, sem vontade que nele os neurónios se entreguem à feroz actividade exigida pelas sinapses. Quando o calor cai sobre mim, os neurónios, todos eles, tornam-se solipsistas e recusam qualquer contacto com outros neurónios, cuja existência é negada não sem veemência. Em dias como o de hoje o meu cérebro é habitado entidades solitárias que se negam a trabalhar. Daí os meus pensamentos serem o que são, fruto de uma mente implantada num cérebro deliquescente. Apesar disso, nem tudo tem sido mau. Recebi uma notícia agradável, relativamente inesperada, mas cujo conteúdo omito. Falo do assunto, para evitar espalhar a impressão de que só me preocupo com os males e não dou a devida atenção aos bens recebidos. Imagino que a esta hora o calor tenha declinado e vou sair um pouco. Talvez o vento me arrefeça o cérebro, os neurónios comecem a trabalhar e me nasçam algumas ideias que, caso não as esqueça, utilizarei amanhã.
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