Mas essa é uma questão
filosófica, e, após a sentença, continuou a derramar sobre o assunto, para
logo de seguida acrescentar, para vincar a certeza, mas essa é uma questão
filosófica, o que não foi suficiente para acalmar o derramamento, pois este
prolongou-se até chegar novamente ao estribilho, o motivo real do escrito, mas
essa é uma questão filosófica. O assunto não vem ao caso, a escrita aconteceu
numa caixa de comentários de um blogue, cujo nome e autor omito. Fiquei a
meditar no sentido da frase, enquanto olhava o céu. Uma parede de nuvens
apresentava, por vezes, abertas por onde passavam quentes e ameaçadores raios
solares. A expressão é usada, amiúdo, num sentido pejorativo. Quer dizer: essa
é uma questão obscura que não interessa a ninguém. Outra possibilidade é que sobre
essa questão cada um diz o que lhe der na veneta, como se sobre o assunto
pudesse exsudar os sentimentos que lhe atormentam a alma. O estranho é que as
questões filosóficas são, em geral, claras e pouco consentâneas com a
democratização opinativa corrente, porque a generalidade das pessoas não tem
capacidade para as pensar – mais por falta de disciplina, do que de
inteligência – e aquilo que as pessoas chamam pensar não passa de uma amálgama
de desejos, sentimentos, emoções, interesses pessoais, tudo articulado por uma
sintaxe generosa que permite confundir expressão com pensamento. Quando se ouve,
e tantas vezes se ouve, mas essa é uma questão filosófico, o melhor é pensar
que é um ouriço-caixeiro ou uma zebra pintada de azul a sair do autocarro que
vai para o Cais do Sodré, pois, por certo, não será uma questão filosófica. O
mais provável é ser um eflúvio que se desprendeu de uma mente sobressaltada com
qualquer emanação vinda de um órgão do corpo em funcionamento deficiente. Também
é verdade que se o meu corpo fosse completamente são, não teria escrito este
texto, mas a manhã vai avançada, tenho coisas para fazer e espero, depois de
almoço, o meu neto.
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