É na “Introduction” à sua obra God, Freedom and Evil que o filósofo norte-americano Alvin Plantinga propõe a distinção entre crer em Deus e crer que Deus existe. Nesta última formulação, crê-se que um conjunto de proposições acerca de Deus são verdadeiras. Na primeira formulação, a crença ultrapassa dimensão epistemológica e implica um compromisso com essa crença. Seria um compromisso com o absoluto e, para ser autêntico, seria um compromisso absoluto. Esta ideia de um compromisso absoluto, a certa altura da história da Europa, e a Europa é muito mais do que a Europa, emigrou da relação com o divino para outras áreas. Para a política, para a arte, para o amor. Em todas estas dimensões, a procura do absoluto redundou em desilusão, no melhor dos casos, ou em tragédia, como aconteceu nessa terrível ligação entre a política e o absoluto. A razão de ser da desilusão ou da tragédia é fácil de compreender. Nem na política, nem na arte, nem no amor, existe um absoluto, ao qual alguém se possa entregar até à extinção de si, do seu ego. Aqueles são sítios humanos, demasiado humanos, para que o absoluto resida neles. A distinção de Plantinga é interessante não porque assegura que Deus existe, mas porque, sub-repticiamente, mostra que crer em Deus, nesse absoluto absolutamente perfeito, é uma resposta, a única resposta, ao desejo de um compromisso absoluto que habita o coração de muitos seres humanos, senão de todos, mesmo que disso não tenham consciência. David Hume estava errado ao pensar que a ideia de Deus tem a sua origem numa reflexão sobre as operações da mente humana e eleva sem limites essas operações de bondade e sabedoria que encontrou na mente humana. A ideia de Deus nasce de uma fome de absoluto, de um desejo que as coisas terrenas, mesmo as mais sublimes, não saciam. Dito de outra maneira, a ideia de Deus nasce do desejo humano. Nada disto prova, porém, que Deus existe, mas também não prova que não existe.
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