terça-feira, 5 de setembro de 2023

Assim seja

Hoje tomei um banho não no mar, mas na realidade, e esta é opressivamente maçadora, mata o espírito de uma pessoa pelo tédio. Não passa de uma água chilra, onde se adiciona uma quantidade significativa de soporíferos, ao mesmo tempo que se mistura doses significativas de fantasias adequadas à primeira infância. Nunca fui adepto das desconstruções, mas posso converter-me às desrealizações, uma tarefa hercúlea para tornar manifesto quanto a realidade é perversa. Quase podia fazer minhas as palavras do primeiro verso do “Recanto 11”, de Luiza Neto Jorge, O verão deu-nos uma volta aos olhos. Só não faço, porque não é necessário o Verão para nos dar a volta aos olhos, basta a realidade, basta a existência de realistas, simulacros de seres humanos que dizem amar a realidade e que com eles não há cá fantasias. Esta gente dá-me volta aos olhos, põe-me estrábico, como se os olhares que me saem de ambos os olhos fossem cordéis a que deram nós cegos. Estou com pouca paciência e tenho uma caminhada pela frente, de onde posso varrer, caso tenha cuidado com a circulação, a realidade realista. É uma forma de me lavar do contacto com o real. Assim seja.

5 comentários:


  1. *O poema ensina a cair*, diz Luiza Neto Jorge

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  2. Talvez haja na enunciação um excesso de optimismo.

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    1. Então, é queda livre? E o enunciado?

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    2. Quanto a quedas, uma verdadeira queda não será tanto livre, mas desamparada. Uma queda ensinada ou aprendida já não será uma queda. Em resumo, nunca se aprende a cair, cai-se desamparado. Quanto ao enunciado, parece-me que é inimigo do poeta, que tem a esperança de a língua, mesmo escrita, se mantenha viva, se mantenha como enunciação eterna. O enunciado tornou-se coisa do passado.

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  3. É verdade, tem *uma vénia a ninguém de especial*

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