Bocejo, agora que a noite
caiu. Passei a manhã e parte da tarde a trabalhar, apesar de hoje ser domingo.
Depois, fui comprar laranjas e tangerinas numa aldeia aqui perto, onde os
produtores locais montam banca à beira da estrada. As pessoas acorrem. É um
modo primitivo de comércio, mas eficaz para quem vende e para quem compra. Os
produtos são melhores, os preços talvez não sejam inferiores aos praticados
pelas grandes superfícies. Quando o tempo está cinzento e húmido, a viagem, uma
pequena viagem de meia dúzia de quilómetros, é sempre reconfortante. Há uma tal
melancolia na paisagem que o coração quase rejubila pelo confronto com a mágoa manifestada
pela natureza. Não porque seja um coração malévolo, mas porque se sente grato pelo
poder de expressão das coisas da terra, que, usando um alfabeto e uma gramática
ancestrais, permitem mesmo aos mais inveterados citadinos, após um momento de
perplexidade, entendê-las. Não foi um domingo glorioso, mas a província é parca
em glórias. Deveria ir caminhar, mas está frio e humidade. Além disso, a
preguiça toca-me a alma e expande-se pelo corpo. Talvez vá procurar um filme
para ir vendo. Talvez. Bocejo.
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