Hoje é muito menor. Na verdade, não é, apenas me parece muito menor. Talvez seja, de facto, menor. De tarde, tive de dar um salto à capital de distrito, à zona do liceu. Ali, ainda não fizera dez anos, tive de prestar provas para ser admitido no ensino liceal. O edifício, naqueles dias de brasa, visto da minha pequenez e da experiência da escola primária, parecia-me descomunal. Entrava nele e sentia-me perdido. Era tudo ou demasiado alto ou demasiado comprido, ou as duas coisas ao mesmo tempo. Prestavam-se provas escritas e orais. No intervalo entre elas, ia-se assistir às orais dos outros candidatos, dos desgraçados que tinham de enfrentar o júri antes de nós. Das provas escritas não possuo qualquer memória, mas das orais restaram algumas. O interrogatório diante dos mapas das colónias que, naquela altura, já tinham mudado o nome para províncias ultramarinas. Rios e afluentes, produções, sei lá mais o quê. Recordo também a experiência de estar no quadro a resolver os problemas que um professor de bata branca, que me pareceu muito velho, mas que talvez nem o fosse, se lembrava de me colocar. Contudo, nada disso me impressionou, nem os mapas, nem os problemas de matemática, nem o júri sisudo, nem o professor de bata branca, a quem, disseram-me depois, chamavam o Herodes. Apenas o edifício exercia sobre mim um fascínio temeroso, aqueles longos corredores, aquelas salas tão altas. Não estava habituado a escolas assim. Hoje ao passar por lá, senti uma leve decepção. O edifício é quase banal e, por certo, não terá corredores tão longos ou salas tão altas como aquelas que eu, nesse longínquo ano, vi. Talvez, com o passar das décadas, tenham diminuído.
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