terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Uma tradição

Ainda não acabaram as minhas natalidades. Respiro fundo, encho-me de coragem e preparo-me para a última etapa. É uma etapa e não uma provação. Por norma, são momentos agradáveis e acolhedores, mas já cheguei àquela altura em que estar em casa é estar no melhor dos mundos possíveis. Aliás, o Natal para mim não é uma provação, mas uma altura de que gosto, embora fique cada vez mais cansado do exercício. Recebi uma fotografia com o meu neto vestido com um pólo do clube de que a família é adepta há várias gerações. Foi uma foto para ver como ficava e para enviar ao avô que teve a ideia de lhe oferecer a vestimenta. É preciso notar, todavia, que o avô está para o clube como muitos católicos estão para Igreja. É um não praticante. Gosta quando o clube ganha, mas se perde ou empata, não encontra motivos de tristeza. Não consegue entender a metafísica do esférico, acha a ética da coisa deplorável e a estética do jogo, em muitos casos, ainda é pior que a ética. Em suma, raramente vê um jogo de futebol. Quanto ao desporto, o rugby há muito que ocupou o lugar do futebol e nem mesmo a esse jogo presta grande atenção. Na adolescência, porém, era vidrado, no sentido que no Brasil se atribui a esse vocábulo, para além do futebol, pela Fórmula 1. Adepto incondicional de Jackie Stewart, o escocês voador. Não havia grande prémio que não assistisse na televisão. Quando a Fórmula 1 chegou a Portugal, ao autódromo do Estoril, já o interesse pelo fenómeno dos carros à volta de uma pista se tinha ido embora e nunca cheguei a assistir a uma corrida ao vivo. Ainda me recordo do nome dos pilotos daqueles tempos, então, uns heróis, mas dos actuais não faço ideia de quem sejam, para além daqueles que ocupam os cabeçalhos das notícias dos jornais que leio. Apesar de tudo, achei que a camisola ficava bem ao meu neto. Um dia destes, faço um sacrifício e levo-o a ver um jogo. Ele veste o pólo e o avô põe um cachecol que um dia comprou ao passar, inadvertidamente, depois de uma ida ao cinema, por uma celebração de um campeonato ganho pelo tal clube que conquistou o coração familiar há várias gerações. Uma tradição.

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