A Consoada já pode ser riscada do calendário natalício deste ano. Segue-se, mais logo, o almoço de Natal, sempre tardio, depois uma espécie de lanche e jantar, num só, e a coisa só acaba com um almoço de dia 26. Tudo isto em diferentes locais. Famílias modernas, digamos assim. Em resumo quase um por cento dos dias de um ano são gastos com as natalidades, isto sem contar, com a procura e compra de presentes. O Papa, li nem sei bem onde, apela para que não se faça do Natal uma festa do consumismo. Eis um pedido pouco caridoso. Imaginemos que todos os que vivem numa cultura com base no cristianismo se tornavam frugais no Natal, que restringiam os consumos e viviam a efeméride com o espírito de pobreza do presépio e não com a presunção de que são reis magos vindos do Oriente. Quantas falências essa atitude implicaria? Quantas pessoas lançadas no desemprego? A Terra, caso tivesse consciência e linguagem, ficaria grata, mas se as tem nós não damos por elas. Por isso, dispensamos a gratidão do planeta e cuidamos de comprar coisas, as mais das vezes inúteis para os compradores e ainda mais para aqueles que vão ser contemplados com elas, mas que têm um forte significado económico. Estou a desviar-me do assunto e a economia é uma área em que a minha ignorância é inexcedível. Por vezes, penso que é uma disciplina com fortes afinidades com a astrologia, pois as previsões económicas são tão incertas quanto as astrológicas, apesar dos robustos modelos matemáticos que os economistas usam para que todos pensem que são cientistas e não astrólogos. O melhor é não continuar com esta catilinária contra a tribo dos economistas, pois hoje é dia de Natal e há que fazer parte dos homens de boa vontade. Talvez o Papa precise de um aconselhamento económico, mesmo dado por astrólogos do mercado, para compreender que entre o espírito e o consumismo não há uma incompatibilidade, pois o espírito dos nossos dias é o espírito de consumo. Até que tudo fique consumado. Vou preparar-me para enfrentar as natalidades que ainda me faltam.
Sem comentários:
Enviar um comentário