quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Sem proficiência

Há dias tão brancos que nenhuma aventura os enriquece. São duas da tarde e apesar de ter demandado várias paragens, nem gigantes nem monstros, tão pouco canto de sereias. Ontem, porém, tive uma aventura extraordinária. Depois de pôr gasolina, fui dar ar aos pneus, que andavam com falta dele, precisavam de um ventilador. Aí descobri que a idade vai rasurando as poucas faculdades com que uma pessoa é dotada à nascença. Num dos pneus, o ar não queria entrar. A maquineta dava erro, uma e outra vez. As pernas doíam-me de estar acocorado e a máquina a dar erro, o ar a recusar-se a penetrar pela câmara que lhe estava destinada e um novo utente da maquineta à espera. Até que se condoeu de mim e me foi explicar, exemplificando, o problema. Era eu que não estava a usar a violência necessária para cingir o terminal da bomba de ar à válvula do pneu. Agradeci e pensei que as coisas começam a complicar-se. Uma vida inteira a pôr ar nos pneus e agora preciso que me expliquem como se faz. É verdade que ontem a minha mente estava ocupada com diversos assuntos que não vêm ao caso, mas isso não deveria impedir que fosse proficiente a encher os pneus do carro. Se chego a esta altura e perco a proficiência numa tarefa tão rotineira como essa, um mero amplexo entre um terminal e uma válvula, o que se seguirá? Talvez exista uma desculpa. O terminal, apesar da designação masculina, tem uma configuração fêmea, devendo ser penetrado pela válvula, independentemente da denominação feminina que lhe cabe. Haverá aqui uma confusão de género, um assunto que é melhor não abordar, mas que pode ter gerado em mim uma confusão tal que já não soubesse o que, naquele caso, era macho e o que era fêmea. Uma outra explicação, talvez melhor, será a minha falta de habilidade para coisas técnicas, mesmo as mais simples. Esta, porém, ainda que melhor, não me convence. Está um bonito dia de Inverno, apesar de estarmos no Outono. Por umas horas.

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