Talvez
não devesse ter comido tanto chocolate. Em termos absolutos, foi até bastante
pouco. Apenas três quadrados de um chocolate de origem austríaca. Na realidade ninguém
pode comer quadrados seja do que for, mas nunca ouvi, e aqui a tradição é
fundamental, dizer que se comeu uns paralelepípedos de chocolate. Ora, estes
três quadrados estavam longe de ser generosos, mas mesmo assim ultrapassei a
medida que, nesta altura da existência, me cabe quanto ao consumo de chocolate.
Isto levanta um problema filosófico que não interessará ninguém e muito menos a
qualquer filósofo. A justa medida não passa de um conceito relativo. O que será
a justa medida para uns, não o será para outros. Pior, a justa medida para mim
foi variando com o tempo. Há muito tempo três quadrados de chocolate era prova
de frugalidade. Hoje, é um excesso. Comparemos a justa medida, enquanto
critério de acção, com o metro padrão, enquanto critério de medida. Este é
objectivo e, a não ser por acidente mecânico, não varia. A justa medida é de
uma inconstância assombrosa. Desconfio que seja por causa dessa volubilidade
que andamos todos perdidos no mundo. Nunca sabemos qual é a justa medida de
cada instante e caímos ora no excesso, ora na falta. Os antigos gregos faziam
dela o centro da virtude moral, mas estou longe de pensar que eles fossem
virtuosos. O mais sensato seria definir o conceito de justa medida com a
precisão com que se definiu o metro padrão, mas logo haveria uma gritaria sem
fim, protestando que somos todos diferentes, cada um tem a sua medida e só a
sua é justa para si. Este culto exacerbado do subjectivismo cansa-me. Uma
pessoa tenta ajudar a humanidade a encontrar um rumo, mas logo percebe que o
melhor é estar calado. Talvez a minha justa medida fosse calar-me, mas imagino
que não seja suficientemente virtuoso para o voto de silêncio.
Claro que há justa medida, toda a gente sabe que comer um chocolate inteiro não é boa medida para ninguém. Mas 3 quadrados também não é um drama:)
ResponderEliminarDrama não será, mas na altura que foi, depois de almoço, a acompanhar o café, tornou-se excessivo.
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