sábado, 13 de janeiro de 2024

Classificações

Espera-me um encontro com os netos. Olho pela janela, percebo que está a chover e penso que tenho de conduzir. Paro o pensamento e vejo-me preocupado por ter associado o estado do tempo com o facto de ter de conduzir. No outro dia, alguém me disse que eu entrava na categoria de idoso. Reagi com ironia, mas a verdade desta minha associação prova que não há ironia que resista ao facto classificativo. Ao diabo as taxinomias. Olho a rua e dois adolescentes – ainda uma classificação – passam sem chapéu de chuva. Vão como se não chovesse. Os campos de jogos da escola aqui ao lado apresentam pequenos lagos. Ondulam ligeiramente, se o vento sopra. Está um sábado desagradável. Na frase anterior, coloquei um a a mais em “Está” e um a a menos em “sábado”. Esatá um sábdo… escrevi. Podia ser o ponto de partida para inventar uma língua, mas falta-me a energia criativa e cedo, cobardemente, ao hábito, corrigindo as palavras que poderiam ser a porta de entrada no árduo caminho da glória. Oiço um secador a trabalhar. Eis um som que pertence à categoria de sons com poder para me irritar. Poderia agora começar uma classificação dos sons, mas tenho de resistir ao impulso taxinómico. Continua a chover.

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