Um drama, e não dos pequenos, aqui por casa. A minha neta
mais nova, perante a tarefa de escrever três frases com a palavra cão,
decidiu, na terceira, inovar e entrar pelo perigoso caminho da heresia. “O cão
tem uma capela na escola e tem Jesus”, escreveu. Como sabemos, o Santo Ofício
não é permissivo e não gosta de inovações. Não se comoveu com a conjunção das
proposições simples, nem com a extensão da salvação aos animais, e, entre
admoestações teológicas e considerações de ordem prática sobre a recepção
escolar da frase, usou da borracha para apagar o perigoso erro. O pior é que a
pequena heresiarca não gostou e decidiu entregar-se, inconsolada, a um choro de
protesto. Persiste em mostrar-se amuada, como se a santa censura lhe tivesse
retirado o maior dos bens, a liberdade de expressão. É assim que, na história,
se formam os grandes revoltados.