Às vezes, quando a noite não é propícia para fazer alguma
coisa, acerco-me de uma janela e fico a olhar o velho castelo, agora iluminado
por holofotes que o recortam das trevas, e o vestem de uma modernidade
enigmática que o tornam vivo, embora exilado dos mistérios do tempo que foi o
dele. Vejo apenas duas torres e o pano de muralha correspondente, mas isso
basta-me. E fico ali, a ouvir a noite, quase extasiado, por aquela fortificação
ter conseguido chegar aos dias de hoje, ultrapassando não poucas vicissitudes.
Não é impunemente que se pertence a uma terra com castelo. Fazemos parte
daquelas pedras e elas, em segredo, moldaram-nos o carácter. Há uma longa
história atrás de nós e isso, nestas noites já tocadas pelo frio, é
reconfortante. Não que estas pedras e esta longa história, penso ao olhá-lo,
nos torne melhores do que outros que não pertencem a terras acasteladas. Não
torna, mas nós sabemos que é melhor ter um velho castelo para olhar do que não
ter nenhum.