Não sei bem o motivo, mas, ao sair da escola, de uma
daquelas reuniões que marcam o itinerário para nenhures, dei comigo a pensar na
relação com o passado. Não com o meu passado, mas o da história. Quando era
aluno, ali mesmo, naquela escola, a distância histórica para qualquer coisa que
não fosse ontem era incomensurável. Por exemplo, o tempo de Eça de Queiroz
parecia-me inimaginável. Isto para não falar do de Camões. Quanto aos gregos,
esses teriam vivido há tanto, tanto tempo, que talvez nem fossem bem humanos. Como
é possível que hoje fale aos meus alunos dos gregos e das suas obras como se
isso tivesse acontecido ontem? Como é possível que, em algumas décadas, se
tenha dado em mim mudança tão radical? Depois, penso que envelhecer não é
adentrar-se no futuro, mas aproximar-se do passado. Quanto menos futuro temos
maior é o passado que abarcamos, pensei ao fazer a rotunda em direcção à
avenida marginal, onde os castanheiros se perfilam e fazem a contabilidade dos
mortais que por ali passam.