São longas, muito longas, as segundas-feiras. Chega a noite
e sento-me sem saber bem o que fazer do que ainda tenho para acabar. Logo,
porém, esqueço os trabalhos e os dia. Um acaso, e eu sou muito atento aos
acasos, influência do incerto princípio da incerteza, de Heisenberg,
conduziu-me a um texto sobre o escritor norueguês Kejell Askildsen, cuja obra
faz parte do infinito oceano da minha ignorância. Diz ele que escreve histórias
para desassossegar os leitores. Compreendo-o, mas tenho uma funda dúvida sobre
se os leitores querem ser desassossegados. Leitores desses são uma raridade. Há
alguns, claro, que falam muito em desassossego, mas, por norma, gostam que
sejam os outros a serem desassossegados. Eles, apesar da retórica, querem ser
confirmados nas suas crenças. O desassossego é sempre algo que o outro precisa.
São coisas destas que me dão para pensar às segundas-feiras depois de jantar,
quando me fecho no sossego do escritório e oiço a noite ranger nos gonzos da
terra.