Os domingos penso-os, muitas vezes, silenciosos. Não basta
que as pessoas deixem, por umas horas, de se entregar ao bulício dos negócios.
É preciso que dentro delas cresça um silêncio que transbordará nas praças e nas
avenidas. Assim, o domingo seria santificado, e tudo teria a marca desse novo
hossana ao que há de mais secreto em cada um. As conversas, os gestos, os
grandes passeios dominicais. Os amantes amar-se-iam dentro do silêncio e o seu
amor ficaria protegido pelo segredo e, desse modo, seria mais forte. Um amor
que transborda para fora do silêncio fenece e, não tarda, passa do alvoroço com
que se ostenta para o declínio que o aguarda. O silêncio, aquele que eu, aos
domingos, penso que eles deveriam conter, é o alicerce que permite ao mundo
persistir, apesar da rudeza do ruído que, até ao domingo, como uma folha morta,
de tudo se desprende.