Há pouco, ainda havia luz, passei por uma mulher encostada à
parede de um prédio quase pegado àquele onde moro. As costas hirtas pareciam
suster o monstro de cimento, mas a cabeça inclinava-se para o chão. Os olhos, fascinados
pelo rodopiar das folhas que o Outono rouba ao arvoredo, não se desprendiam do
espectáculo. Tive vontade de parar e desejei ser arrastado para dentro daquele
olhar. Havia nele uma tal melancolia que quase me comovi. Apressei o passo e já
longe voltei-me para trás. As folhas rodopiavam e na parede havia então uma
sombra, o buraco vazio de um desejo por realizar.