quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Texugo

Há muitos anos, conheci alguém que tinha por máxima de vida preservar-se do contacto com o rebanho. Era uma pessoa discreta e, por alguma razão que eu nunca quis saber, deixou que o aforismo se lhe soltasse da boca num ambiente relativamente público. Nesse momento dei pela sua existência. Foi o princípio de uma longa amizade só interrompida pela morte. O rebanho, dizia, não cheira apenas mal. Contamina-nos com o seu cheiro. E logo acrescentava que não há coisa pior que o mau odor. Um dia, numa conversa ocasional cujo assunto esqueci, acrescentou à sua tese uma taxinomia humana. Há quatro tipo de pessoas, afirmou, enquanto olhava para lá da janela. As que fazem parte do rebanho, as que são cães do rebanho, os pastores do rebanho e os inúteis, os que não sabem balir, nem ladrar, nem possuem voz de comando ou propensão para homilia. Esses tornam-se suspeitos e a única solução que possuem, para que possam preservar a vida, é tornarem-se texugos. Só o mau cheiro pode combater o mau cheiro, acrescentou não sem deixar escapar uma gargalhada.