sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Depois de almoço


Podia desculpar-me com o calor afrontoso que persiste em colonizar este sítio onde me cabe viver. Seria faltar à verdade. A realidade é que as coisas que me interessam talvez  não me interessem assim tanto. Se num daqueles dias, como o de hoje, posso sentar-me, depois de almoço, em frente ao computador para ver ou fazer alguma coisa que me interesse, o certo é que, passados alguns minutos, adormeço. Não se pense que é por falta de frugalidade na refeição, não é. As coisas começam a desvanecer-se, os olhos a arder, as pálpebras a cerrarem-se. Então, a cabeça descai, o queixo choca com o peito e ali fico até que a dor no pescoço se torna insuportável e acorde, a praguejar com a idade, o mundo e a sua falta de interesse. Só me falta ressonar, pensei há pouco. Uma voz vinda de outro lado, como se me lesse o pensamento, tira-me as ilusões. Tens estado a ressonar. Não ouvi nada, respondo não sem ponta de azedume.