Podia desculpar-me com o calor afrontoso que persiste em
colonizar este sítio onde me cabe viver. Seria faltar à verdade. A realidade é
que as coisas que me interessam talvez
não me interessem assim tanto. Se num daqueles dias, como o de hoje, posso
sentar-me, depois de almoço, em frente ao computador para ver ou fazer alguma
coisa que me interesse, o certo é que, passados alguns minutos, adormeço. Não
se pense que é por falta de frugalidade na refeição, não é. As coisas começam a
desvanecer-se, os olhos a arder, as pálpebras a cerrarem-se. Então, a cabeça
descai, o queixo choca com o peito e ali fico até que a dor no pescoço se torna
insuportável e acorde, a praguejar com a idade, o mundo e a sua falta de
interesse. Só me falta ressonar, pensei há pouco. Uma voz vinda de outro lado,
como se me lesse o pensamento, tira-me as ilusões. Tens estado a ressonar. Não
ouvi nada, respondo não sem ponta de azedume.