O calor desliza das paredes, ergue-se em direcção ao tecto e
cai sobre as cabeças com um estrondo feito de silêncios, cansaço e um triste
aborrecimento. Começaram as aulas e o país descansa. Os pais podem retomar as
suas vidas interrompidas por essa estranha intromissão que a presença dos filhos em
férias sempre provoca. Eu cumpro com zelo as minhas funções. Falo sobre
conceitos, problemas, teses e argumentos. Proponho exercícios e eles abanam-se,
suspiram, mexem-se nas cadeiras, torcem os dedos e olham-me resignados, como se
soubessem que estão perante uma inevitabilidade. Olho para a rua. Ao longe, a
pedra baça do castelo reverbera sob o chicote da luz solar. Quando a campainha estilhaçou
o silêncio, ao vê-los abatidos pelo calor e submetidos à canga das mochilas, pensei que a resignação é a pedra angular da escola neste pobre país.