Há lugares onde se enlouquece rapidamente ou então que
atraem os que, apesar de não o parecerem, são já loucos. Esses sítios, mais que
um céu nublado e escuro que ofusca a luz, são buracos negros que a tudo devoram.
Os que habitam ali, tenham enlouquecido depois de entrar ou chegado já loucos, trazem
no coração o desejo ardente de espalhar a sua loucura por todo o lado que está
sob o seu império. E como eles gostam de imperativos, como odeiam o que é
diferente, qualquer alternativa à mania que os consome, qualquer vislumbre de
sensatez. Num primeiro momento, ainda ocultam do público a doença, mas logo o
entusiasmo próprio dos maníacos cresce e se abate como uma guilhotina sobre
todos os que pensam. Decapitar, decapitar! Eis a palavra de ordem dos déspotas
da insanidade. E a loucura vai-se expandindo, toma por dentro as instituições,
as pessoas, a réstia de luz que bruxuleia ao longe. Os loucos, possuídos por um
demónio contumaz, não dormem e quanto mais enlouquecem os outros, mais ávido é
o seu desejo por mais e mais demência. Inesgotável é o apetite que os consome.