Felizes são os domingos que esquecemos que o são. Surgem
como uma manhã fresca, absortos e anónimos, para declinarem na preguiça das
horas. A segunda-feira será ainda uma espécie de limbo até que, cansado de
benevolência, o deus abrirá as portas do inferno. Outrora, as pessoas
endomingavam-se. Iam à missa, as que iam, algumas ao futebol ou ao cinema. Era
um tempo severo e as possibilidades de distracção, parcas. Quem viveu esses
tempos, percorre as ruas da antiga vila e imagina que, naqueles dias, era
feliz. Talvez fosse, talvez não. Muitas vezes confundimos a felicidade com a
escassez de anos, ou imaginamos que uma bravata juvenil é um feito só possível
naqueles tempos heróicos, que não voltarão. A passagem dos anos favorece a
tendência para a mitologia, torna até o mais insípido dos homens num mestre
contista, mas a realidade, com o peso do calcário, não deixa de aflorar aos
nossos olhos e de recordar que uma ilusão, por amável que pareça, não deixa
de ser uma ilusão. Seja como for, o facto de os homens se endomingarem menos
não deixa de ser um progresso moral da humanidade.