domingo, 9 de setembro de 2018

Setembro


Fui há pouco à rua e o domingo pareceu-me soturno. Talvez fosse eu que estivesse soturno, com a despedida das netas, depois de uma semana animada pelo frenesim da sua presença. Setembro é um mês difícil, pensei. Há nele sempre uma fonte de desilusão. Quando chega, o corpo saúda-o como um salvador, mas também o corpo se precipita e vive equivocado. Há pessoas que sonham outonos eternos, uma temperatura suave, as primeira chuvas, a queda das folhas, uma melancolia aprazível que fosse uma entrada para o jardim do Éden. Este, porém, está guardado por querubins de espada flamejante e Setembro é um repositório de traições. Esconde, no seu íntimo, um punhal terrível que, na primeira oportunidade, há-de cravar nas costas dos mais avisados. Encolho os ombros e regresso a casa, pisando calmamente as pedras da calçada, enquanto observo o recorte das sombras que os prédios projectam no meu caminho. Amanhã será outro dia, murmurei para comigo. E a banalidade da frase reconciliou-me com este domingo sem futuro.