Por vezes, caminho dentro do meu esquecimento. Uma rua onde
não passo há décadas, pessoas que morreram até na minha memória, um dia de
tempestade quando era pequeno, o som que vinha do rádio em casa dos meus pais,
o vento que erguia turbilhões de poeira no pátio da escola. E assim que vou
desbravando essas estranhas avenidas esqueço-me do lugar onde estou, daquilo
que faço, de quem sou. Então oiço um cântico de alegria, mas logo a memória, com
a sua rudeza canalha, atira-me para o presente, empurrando-me para o fundo da
minha própria pele. Talvez sobreviva, penso e calo-me a olhar o horizonte.