sábado, 29 de setembro de 2018

Memória


Por vezes, caminho dentro do meu esquecimento. Uma rua onde não passo há décadas, pessoas que morreram até na minha memória, um dia de tempestade quando era pequeno, o som que vinha do rádio em casa dos meus pais, o vento que erguia turbilhões de poeira no pátio da escola. E assim que vou desbravando essas estranhas avenidas esqueço-me do lugar onde estou, daquilo que faço, de quem sou. Então oiço um cântico de alegria, mas logo a memória, com a sua rudeza canalha, atira-me para o presente, empurrando-me para o fundo da minha própria pele. Talvez sobreviva, penso e calo-me a olhar o horizonte.