sábado, 8 de setembro de 2018

Xadrez e sexo


Há pouco fiquei perplexo ao ler que em Tallinn, Estónia, é proibido jogar Xadrez durante o sexo. Não pense o leitor que a minha perplexidade se deve a um acesso de incredulidade que me tenha levado a duvidar da notícia. Embora não a tenha ido confirmar, estou certo que não faz parte das célebres fake news que tanto atormentam certas personagens pouco dadas ao Xadrez. A perplexidade também não nasce de achar bizarros os legisladores estonianos. Se na Escócia não é permitido conduzir vacas bêbado e em Portugal não se pode urinar no Oceano Atlântico (o que acho muito bem), então também é plausível que, numa parte do báltico, não se possa mover o peão enquanto a rainha está a arfar. Tudo isto é natural e, para qualquer pessoa sensata, bastante óbvio.

O que me deixa perplexo é antes de tudo a magna questão de saber se à relação entre fazer sexo e jogar Xadrez se aplica, ou não, a propriedade da comutatividade. Portanto, a minha perplexidade é do âmbito das matemáticas e não da inverosimilhança da notícia. Será que, neste caso, a ordem dos factores também não altera o produto? Traduza-se: será a mesma coisa jogar Xadrez enquanto se faz sexo e fazer sexo enquanto se joga Xadrez? No círculo dos meus amigos e conhecidos, há quem defenda, e não são poucos, que neste caso a ordem dos factores não altera o resultado. Tanto faz jogar Xadrez durante o acto sexual como praticar sexo enquanto, calma e pensadamente, se disputa uma partida. Se se estiver em Tallinn, o resultado é cometer um crime e, eventualmente, ser punido pelo duro braço da lei.

Por mim, depois de muito meditar, inclinei-me para a inexistência de comutatividade no presente caso. Uma coisa é jogar Xadrez enquanto se faz sexo e outra, muito diferente, é fazer sexo enquanto se joga Xadrez. Neste caso, não há prejuízo de terceiros. O adversário pode até beneficiar do seu oponente estar centrado na vexata quaestio do orgasmo e não ser capaz de perceber que o peão está a preparar-se para comer a Rainha. Eu sei que os peões não devem comer rainhas, mas a vida é o que é, e a nobreza já não é o que era. Estou em crer que nem os estonianos seriam capazes de achar isto um crime. Uma coisa bem diferente, há-de o leitor convir, é estar, depois de passada a provação dos preliminares, em pleno amplexo amoroso, entre gemidos, sussurros, gritos e murmúrios, com a tensão a crescer, o desejo a transbordar, a sua parceira ou parceiro a entregar-se a um violento orgasmo e você, ao mover a torre para a casa h8, exclamar não sem uma ponta de cinismo: Xeque-mate! Só pode dar cadeira.