sexta-feira, 28 de setembro de 2018

O castelo


Quando passei na avenida, o castelo espiava a vida cá em baixo com uma indiferença feita de pedras e anos, um rosto sem ademanes nem trejeitos, talvez com uma ou outra ruga de comiseração. Terá razão, pensei. Já viu muitas coisas e há-de pensar que aquilo que nos ocupa e faz ferver de indignação ou de entusiasmo não passa de poeira, e o pó logo há-de assentar sob a copa dos castanheiros, sem que alguém se lembre dele. E isso deu-me uma estranha alegria e a certeza da irrelevância daquilo que me invade os dias ou a insignificância da minha própria existência. Não há como um velho castelo para nos devolver à poeira da realidade. Ri-me, grato, e continuei o caminho.