Quando passei na avenida, o castelo espiava a vida cá em
baixo com uma indiferença feita de pedras e anos, um rosto sem ademanes nem
trejeitos, talvez com uma ou outra ruga de comiseração. Terá razão, pensei. Já
viu muitas coisas e há-de pensar que aquilo que nos ocupa e faz ferver de
indignação ou de entusiasmo não passa de poeira, e o pó logo há-de assentar sob
a copa dos castanheiros, sem que alguém se lembre dele. E isso deu-me uma
estranha alegria e a certeza da irrelevância daquilo que me invade os dias ou a
insignificância da minha própria existência. Não há como um velho castelo para
nos devolver à poeira da realidade. Ri-me, grato, e continuei o caminho.