Entardece. O dia, exausto e dorido, desliza pelos corpos e
procura a terra onde se esconderá no seio da noite. Foi isto que pensei,
enquanto olhava para um jacarandá em frente da janela e procurava, entre folhagem
e cápsulas secas, descobrir frutos ainda verdes. E enquanto o tempo escorria,
entregava-me a uma contagem silenciosa. Depois, esquecido da aritmética, saí de
onde estava, passei por gente arqueada pelo calor e entrei no carro. Vi um
cachorro de língua de fora, depois por um bando de escolares presos na
exuberância da adolescência, subi um viaduto e entreguei-me ao rally das rotundas. O pensamento sobre o
dia que se esconde na noite voltou-me e eu sorri com a inutilidade das coisas
que me ocupam o espírito. Pudesse eu ter grandes pensamentos, mas só os
pequenos nadas e as grandes inutilidade parecem encontrar casa em mim.