Oiço vozes lá em baixo e, mais ao longe, ergue-se a gritaria
vinda de uma escola em tempo de intervalo. A inclemência do sol não chega para
tapar as bocas e reduzi-las à sombra do silêncio. Talvez seja esse o problema
da humanidade, a impossibilidade de manter a boca calada. Esse silêncio que
nunca chega aumentaria o valor das palavras, pois haveria um excesso de procura
para a escassez da oferta. Mas não, nunca conseguimos cerrar os dentes
devidamente. Com a produção sem freio que limite o desastre das vocalizações, nem
dadas queremos as palavras dos outros. Para ruído, e não pequeno, bastam as
nossas.