Tenho visto uns filmes situados na Belle Époque. Ainda hoje a designação faz revirar os olhos a quem
tenha inclinação para os revirar, pois isto de os fazer andar à volta não é
coisa de toda a gente. Começo a afastar-me do tema. Voltando aos filmes. Giram
em torno de gangsters e prostitutas ou de outro tipo de gente que não seria
recomendável frequentar. Não é uma avaliação moral, apenas uma constatação dada
pelo estado de confinamento que até um simples narrador está sujeito. É também
prova de escassez de assuntos e isto é um drama. A oferta de temas contraiu-se
fortemente e uma pessoa fica a olhar para o monitor à espera que um tema lhe
caia em cima, que um deus ex-machina
a salve. Nada. Sempre posso falar do friso das orquídeas, descrever-lhes a cor,
o número de flores por planta, mas a tudo isso falta acção. Nenhuma delas se predispôs
a ser heroína, a encetar uma peripécia que me incendeie a imaginação.
Limitam-se a ficar ali, exibem-se, esperam que cuidem delas, mas a acção está
fora não dos seus poderes mas dos seus interesses. Chegaram-me a sugerir que
tinham vocação de monjas contemplativas, daquelas que almejam sentar-se num
penhasco e ficar ali a olhar o infinito. Também as torres do castelo podiam
cooperar comigo, mas asseveram-me que não têm paciência. Já viram demasiadas
coisas e que nada disso lhes interessa. Estiveram quase a contar-me umas
histórias pícaras que se passavam, e talvez se passem, no interior das
muralhas, mas depois deram uma gargalhada e remeteram-se ao silêncio. Como se
vê, sou um narrador esforçado, mas os elementos não cooperam comigo. Hoje é
sexta-feira, dia 24 de Abril. Informam-me que mais logo choverá e trovejará, mas
também haverá abertas. Se houvesse um deus
ex-machina que solucionasse esta história em que fomos envolvidos, juro que
haveria de encontrar assunto. Sendo assim, restam-me os filmes sobre a Belle Époque.
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