Um súbito raio de sol e logo me sentei na varanda para o
apanhar, mas as nuvens não estiveram pelos ajustes e cobriram-no, passados instantes,
de cinza e chumbo. No meio de tudo isto, não é propriamente a vida que encolhe
mas as possibilidades onde a haveríamos de dissipar. Os cenários minguaram de
tal modo que se tornaram minimalistas, breves alusões, traços simbólicos a
representar qualquer coisa, que começamos já a não saber muito bem o que é. O
refluxo doméstico a que se está sujeito é a negação do homem público, mas o que
significa isto ainda ninguém sabe e não sou eu que o vou descobrir. Limito-me à
minha domesticidade e domestico alguma tentação reflexiva. Bebo água. É um
imperativo biológico e uma mudança que se está a dar em mim. A Semana Santa
progride, mas também ela ficou presa ao confinamento e já li que até a
peregrinação de Maio se realizará em casa, talvez entre o quarto e sala. Um
exercício que, nos últimos dias, vou desenvolvendo é uma espécie de história contrafactual,
onde imagino o que faria se não estivesse confinado aonde estou. O resultado
não é exaltante, as alternativas que se abrem aos homens não são infinitas nem
sequer muitas. Depois, lembro-me do dito ao gosto popular contra factos não há
argumentos e abandono o meu projecto contrafactual. Hoje é terça-feira, dia 7 de
Abril. Não chove nem faz sol, nem as bruxas fazem pão mole. Inspiro longamente
e temo pela minha sanidade mental, ou talvez nem isso. Ainda não foi hoje que usei
a palavra plumitivo.
...mas já me obrigou a ir ver o que significa (Jornalista ou escritor, geralmente de má qualidade -https://dicionario.priberam.org), pelo que agradeço a ausência de utilização ;-)
ResponderEliminarNão tem de que agradecer. Sim, muitas vezes o termo era usado de forma ofensiva, como escárnio, como forma de dizer que alguém era um mau utilizador da língua. Mesmo em França, de onde veio o vocábulo, tinha esse sentido, embora também significasse burocrata.
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