O parque infantil, agora que a tarde começa a declinar, encheu-se de gritos. Por vezes, ouvem-se vozes de adultos ou o ladrar de um cão. A vida passa indiferente à chegada do Outono. Nem as árvores dão mostras de estarem a sofrer uma metamorfose que as amarelecerá inexoravelmente, não sem antes as elevar ao esplendor e à glória, quando adquirirem os tons acobreados com que hão-de seduzir os transeuntes. As árvores também sofrem de vaidade, mas isto é apenas uma mera conjectura à espera de refutação. Será que a vaidade, numa árvore, é pecado? Para analisar este ponderoso tema, haveria que seguir o conselho de Tomás de Aquino, dado no De malo. Segundo o doutor da Igreja, há que examinar em primeiro lugar o que é a glória e, depois, a vaidade. Só no fim deste caminho se pode decidir se a última é ou não pecado. Deixemos essa espinhosa análise de lado e concentremo-nos nas filhas da vaidade – ou, no caso das árvores, nos seus frutos – a desobediência, a jactância, a hipocrisia, a contenda, a pertinácia, a discórdia e a presunção de novidades. De todos estes rebentos, o que me atormenta mais é a presunção de novidades. Não basta que alguém seja presunçoso, ainda por cima faz-se de novas e não há, para um narrador exausto, coisa pior que as novidades. Imagino que os frutos das árvores sejam o resultado da sua vaidade, na modalidade de presunção de novidades. Isto é tolerável num vegetal, mas num ser humano é cansativo. Não há pior fauna do que a daqueles que se presumem inovadores, pois não inovam coisa nenhuma e presumem em excesso. Acho que me perdi no caminho. Queria escrever sobre outro assunto, mas esqueci-me qual era. Estou à espera das minhas netas, ao menos haverá animação.
Em jardinagem, preocupam-me duas coisas, principalmente: as cochonilhas e os rebentos-ladrão.
ResponderEliminarA terceira, é que a minha neta não consiga vir a ler o mesmo Arranca-corações que os avós.
A minha visão do jardim é mais sobranceira. Olho as árvores do quinto andar. Vejo as copas e os ramos no Inverno, caso sejam de folha caduca. Não tenho jardim para cultivar. Quanto às leituras dos netos, é melhor não pensar nisso.
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