Há um retrato desenhado a carvão do escritor Heinrich von Kleist (1777-1811) quando estava no regimento n.º 15 da guarda prussiana. Quando o vi, devido ao bicorne na cabeça e à farda, pensei que era Napoleão. Um olhar um pouco mais atento mostrou-me ser outra pessoa. Descobri que era Kleist. O retrato parece uma caricatura, devido à desproporção da cabeça, acentuada pelo chapéu, em relação ao corpo, demasiado pequeno para cabeça tão grande. Tentei encontrar o retrato na internet, mas a procura foi frustrada. Nem tudo se encontra na rede. O escritor prussiano alistou-se em 1792 e saiu das forças armadas em 1799, para grande pena da família, de tradições militares. Tinha aspirações espirituais, terá argumentado. Na Wikipédia em língua portuguesa, na entrada que lhe é dedicada refere-se a existência de uma tradução de Michael Kohlhaas – o rebelde da autoria do poeta Egito Gonçalves, publicada em 2004, pela Antígona. Ora, a minha primeira memória do autor é precisamente dessa obra, mas data dos anos setenta do século passado. Foi publicada pela Editorial Inova, do Porto, e a tradução deverá ser a mesma. Tentei confirmar, mas não encontrei o livro. É outro que terei deixado não sei bem onde. A obra fazia parte de uma colecção denominada duas horas de leitura. Dela constava um livro de contos de José Rodrigues Miguéis, Comércio com o Inimigo. Lembro-me de ter ficado fascinado por aquelas narrativas. Também esse livro ficou perdido por algum sítio. Há uns anos, porém, tornei a comprá-lo num alfarrabista, mas o fascínio tinha passado. É possível que Kleist, como Napoleão, fosse pequeno. A média de alturas dos homens dos exércitos napoleónicos rondava, segundo li num livro do historiador Eric Hobsbawm, o metro e meio. Talvez, naqueles tempos, as cabeças fossem excessivas para os corpos.
E, em relação às mulheres, os corpos quanto às cabeças.
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