Por vezes, enquanto narrador destituído de narrativa, à míngua de actos a tornar memoráveis, penso que estes textos são um equívoco, a emanação da minha inclinação para a hipérbole. O ideal seria uma dimensão idêntica à de um tweet, 280 caracteres, ou mesmo dos antigos telegramas que se pagavam à letra, o que originava textos com uma sintaxe muito especial. Não me lembro de alguma vez ter enviado um telegrama, mas a memória não é de confiança. Ocorre-me que quem não diz o que tem a dizer em 280 caracteres é porque não tem nada para dizer, mas ama a prolixidade. Em matéria de concisão não há como os japoneses. Inventaram o haiku, um poema que diz o que tem a dizer no espaço equivalente às nossas dezassete sílabas métricas. Agora, poderíamos dar mais um passo e matematizar tudo isto, formulando uma lei daquilo que se tem para dizer. Poderia ficar assim: aquilo que se tem para dizer é inversamente proporcional ao número de caracteres (ou de palavras) que se utiliza. É uma bela lei, apesar de não ser muito original. A palavra original fez-me lembrar uma piada, talvez contada por algum professor meu que tenha estudado em Coimbra, o que eram quase todos. Reproduzo a pilhéria ouvida talvez há cinquenta anos. Numa oral, o lente – estaríamos em ambiente universitário – volta-se para o aluno e afirma que o exame escrito dele tem coisas boas e coisas originais. Depois de uma pausa, nestas coisas a pausa é alma do negócio, acrescenta que só é pena que as coisas boas não sejam originais e as originais não sejam boas. Por certo, ao aluno não lhe terá ocorrido responder que não se pode ter tudo nesta vida e que o doutor se deveria contentar em apreciar tanto a bondade que há no hábito, como a originalidade do erro. Estes pensamentos, quase mórbidos, ocorrem-me à sexta-feira à tarde, não por ser a véspera do fim-de-semana, mas como reflexo da semana plena de utilidades. Meu Deus, a onde vão os 280 caracteres. Se isto fosse pago como um telegrama, há muito que teria falido. Não, já teria sido decretada a minha insolvência. Não sou nenhuma firma para falir.
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