Não há coisa mais volúvel do que as previsões meteorológicas. Minto. As previsões económicas têm um maior grau de volubilidade, de tal maneira que, já depois dos factos ocorridas, as previsões podem mudar e, não poucas vezes, o prognóstico depois do jogo é errado. Tinham-me prometido para aqui um dia nublado. Ora, está um sol risonho, contente por dardejar raios sobre as ruas sem que um escudo se entreponha. Seja como for, hoje estou entregue à cultura da preguiça, um pecado mortal como toda a gente sabe. A ideia de a preguiça ser um pecador mortal é uma inovação relativamente recente. Pecado mortal era a acédia, um estado espiritual que atingia os monges cristãos, marcado pela apatia, isto é, pela falta de paixão pela paixão do Senhor. A preguiça e a apatia são coisas diferentes. Um preguiçoso não tem de ser apático, não tem de ser destituído de paixões, apenas suspende a vontade de fazer alguma coisa. A preguiça pode mesmo ser uma grande paixão e ser activamente procurada em certos momentos da vida. Daí que possamos usar sem problema o oxímoro o preguiçoso activo. Neste momento do dia, é isso que eu sou, um preguiçoso activo, pois activamente me entrego à prática da preguiça. O senhor Karl Marx via no trabalho um elemento emancipatório, mas Deus, talvez para o castigar, deu-lhe um genro, Paul Lafargue, que escreveu o Elogio da Preguiça. Casou com Laura, a segunda filha do autor do Capital, e suicidaram-se ao mesmo tempo, num pacto de amor. Os pais do protagonista de Serotonina, de Michel Houellebecq, fazem o mesmo, muito possivelmente uma reminiscência do escritor francês da história de Paul Lafargue e Laura Marx. A junção dos nomes de Paul e Laura daria um belo título para um romance romântico, com um final feliz, pois os amantes entram na eternidade de mãos dadas.
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