quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Tagarelice

Mantenho o velho hábito de todos os dias passar com os olhos pela imprensa. Ao fim destas décadas todas de prática, o que tenho a dizer? Aquilo que toda a gente sabe. A imprensa trata da espuma dos dias, para usar, sem atender aos direitos autorais, o título de uma obra de Boris Vien. Ora, naquilo que vem na babugem há coisas que, apesar de se apresentarem com grande inflamação, acabarão por passar e não mais serão lembradas. Outras, porém, sendo discretas, quase não notadas, poderão ser um sinal da mudança no espírito do mundo, embora só sejam reconhecidas como tal muito depois. Em resumo, manter-se informado significa dar atenção ao que tem importância nula e não perceber aquilo que é um sintoma decisivo de uma nova realidade. Nem sempre é assim, mas quase. Esse interesse pelo jornal diário – agora nas novas versões da rede que nos liga a todos – não será mais do que a satisfação da necessidade de encontrar assunto para alimentar aquilo que os franceses denominam de bavardage. Precisamos de matéria para alimentar a nossa tagarelice quotidiana. Quando Hegel se lembrou de dizer que a leitura dos jornais é a oração matinal do homem moderno, não antecipou o que vinha aí. E aquilo que veio foi a queda na tagarelice. Um telejornal não é mais que um exercício de tagarelas. Uma prova do niilismo que se apoderou da nossa sociedade. Nem sei o que me deu para falar disto. O calor tem um efeito nefasto em mim, produz conexões neuronais que levam a este tipo de coisas. Amanhã será outro dia.

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