Passei há pouco diante da televisão e percebi que estava a decorrer um ritual litúrgico em torno de um qualquer drama nacional. Alguém se levantava, falava e, quando acabava, o grupo de onde se erguera aplaudia. Talvez por rivalidade mimética, de um outro grupo, alguém se levantava, falava e, quando acabava, era o seu grupo que palmejava. Isto fez-me lembrar o que se passava na época de Estaline. Quando ele acabava de discursar, os aplausos irrompiam com estrondo e continuavam... continuavam... continuavam. O problema que se colocava a cada um dos apoiantes era o de não ser o primeiro a parar o aplauso. Suspeitava que a vida se podia enegrecer devido à fraqueza dos braços ou à falta de energia para mover as mãos uma contra a outra. Nisto não estou a entrar no campo minado da política, mas no âmbito da antropologia. Há uma clara superioridade na rivalidade mimética. O importante, para os falantes que vi na televisão, é a quantidade de aplausos que recebem ser maior do que a do seu rival. Para isso, basta que fale em último lugar, depois de ter medido a ovação do outro lado. O grupo prolonga a sua por mais uns segundos e tudo fica resolvido, sem dramas para os braços, tortura para as mãos ou vidas enegrecidas devido a uma constituição débil. É muito mais difícil quando a rivalidade é suprimida. A claque fica com um problema entre mãos, para o qual nenhum cronómetro terá a astúcia suficiente para sugerir uma solução.
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