Quase 500 km debaixo de chuva para ver o neto jogar rugby. Não num jogo importante, pois nada idade dele jogos são jogos, sem classificação de importância, mas naqueles torneios que servem de convívio entre criançada de diversos países. Vindo ontem, hoje vi dois, dos três jogos – o primeiro foi demasiado cedo. As partidas são de 15 ou 20 minutos. A equipa portuguesa a que ele pertence, o CDUL, está a milhas de distâncias das espanholas com que jogaram. Os sub-oito espanhóis são mais altos, possantes e tecnicamente muito evoluídos. Os portugueses pareciam pulgões saltitantes perante miúdos bem mais adultos no jogo. Num dos jogos, a certa altura, o meu neto, nos seus seis anos e meio, é abalroado por um adversário bem mais alto e muito mais pesado. Conseguiu parar a jogada, mas nem percebeu o que lhe aconteceu. Levantou-se, choramingou, foi substituído e passados uns minutos entrava de novo. Pensei que tudo aquilo lhe fazia muito bem. Aprender a lidar com a dor, a resistir às contrariedades. Isto para além do convívio com colegas e adversários, bem como com as regras que qualquer desporto impõe, e que o rugby não é excepção. Pelo contrário. Depois, ele desapareceu com a equipa e os avós e os pais foram tratar da vida sem rugby. S. Pedro foi benévolo com os jogadores. Numa Espanha inundada, não enviou chuva durante toda a competição. Reservou o seu ímpeto lacrimoso para a tarde. Em vez de estar por aí a passear, estou confinado a escrever, enquanto oiço a avó a falar como uma outra neta, indicando-lhe não sei o quê sobre a escola, esse martírio que a espécie humana inventou para massacrar as novas gerações, com a esperança – infundada, diga-se – de as civilizar, como se entre escolaridade e civilidade existisse uma relação de causa-efeito. Não há. Haverá uma correlação, mas talvez nem seja muito forte. Espero que a chuva dê tréguas, pois o que me apetece é deambular por aí, sem destino, ao sabor da gramática da cidade. S. Pedro tem piedade destes portugueses – não são poucos – que vieram atrás dos filhos e dos netos.
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