As contas dos restaurantes, muitas vezes, vêm acompanhadas
com o cartão da casa. Não me faço rogado e fico com ele. Não porque vá
utilizá-lo para fazer uma marcação futura ou porque faça colecção de cartões.
Não sou dado a esse exercício de acumulação de coisas inúteis, que a tanta
gente fascina. Guardo-os para marcar livros e lá os vou depositando entre
folhas, onde ficam esquecidos e melancólicos. Quando abro um livro que há muito
tempo não abria e encontro um desses cartões, o mais certo é que não saiba
quando me veio parar às mãos, mas ali está como prova de que um dia prestei
atenção às palavras que aquele livro alberga. Foi isso o que aconteceu há pouco
quando peguei num velho livro de poemas do Eugénio de Andrade. Lá estava,
abandonado e solitário, um desses cartões. A noite cai e a iluminação pública segrega
uma luz triste e infeliz sobre as ruas. Olho cartão e ele nada me diz sobre
esse lugar onde um dia estive e que hoje não é mais do que um pedaço de cartão
que marca um poema que um dia achei que não deveria ser esquecido.