As quintas-feiras são exercícios difíceis que só o cair da
noite apazigua. Trégua de curta duração, penso, enquanto subo vagarosamente o
viaduto e entro numa das mil rotundas com que a estética municipalista decidiu
decorar o pequeno país que nos cabe. Viver das palavras é um ofício estranho,
tão frágeis e impotentes elas são. Às vezes, fazem milagres, uma vida que muda,
alguém que escuta e descobre, na encruzilhada, o caminho a seguir, a sua
estrada de Damasco. A mais das vezes são inúteis. Mal proferidas, logo se
repartem em sílabas e estas, no momento seguinte, já são pó de
letras, que o vento, incauto é húmido, levará. A noite cerra-se com obstinação
e a escuridão toma conta de mim. O melhor seria viver calado, fazer do mundo
uma grande cartuxa. Ao menos poupava-me aos meus disparates.