quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Homem novo

O pior de tudo, pensei enquanto vinha para casa, é que sou anacrónico, embora alguns possam suspeitar que sou apenas velho ou um reaccionário inveterado. Vivo num tempo em que se julga que os seres humanos são completamente moldáveis e perfectíveis. E eu não creio numa sílaba sequer dessa interminável ladainha sobre o homem novo que pelo afã de pessoas como eu há-de ser produzido. Cada época tem a sua religião, mas talvez não haja religião mais despótica do que aquela onde Deus não existe, mas um batalhão de engenheiros apostados em fazer do joio trigo ou da ratazana águia real. Escondidos na escuridão vão uns rapazes. Pelo vozear não têm ar de que queiram ser homens novos. Dizem disparates como o velho homem os dizia e nisso está toda a sua humanidade. O que me aborrece, a mim que nunca hei-de ser um homem novo, é que nas passadeiras falta a luz e não se vêem os peões. Se em vez de tentar criar o homem novo houvesse melhor iluminação pública seríamos todos menos infelizes.

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