O dia de hoje lembrou-me os de Maio, talvez mais puro e
ardente, talvez mais brilhante na rapidez com que a noite há-de chegar. Os
pássaros que se tinham calado em Dezembro voltaram a cantar perto da minha
janela. Terão perdido o saber das estações, pensei ao ouvi-los, ou então
adquiriam um novo saber que eu ainda não compreendo. A verdade é que compreendo
cada vez menos coisas e sinto esse avanço inexorável da perplexidade como uma
libertação. Um pássaro canta, um carro passa lançando baforadas de fumo e eu
entrego os meus parcos saberes na casa do esquecimento. Se pudesse, que se me
perdoe o egoísmo, guardava toda a ignorância para mim.