segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Direito à palavra

Ainda não ouvi nenhum dos meus alunos jurar que a terra é plana. Talvez não se tenham deparado com a moda ou o assunto não os interesse. Por vezes, noto que um ou outro é mais atreito a teorias da conspiração. Alguém me informa que foi o governo americano que derrubou, num acto de pura malvadez e movido por insondáveis interesses, as torres gémeas ou que o homem nunca foi à Lua, que tudo isso foi filmado na Terra. Talvez em Cacilhas, sugiro eu, mas ninguém percebe a alusão perversa. Enquanto contemplo o ar crepuscular do dia e oiço vozes sem perceber o que dizem, devaneio à volta do pluralismo epistémico que as redes sociais promovem. E em tudo isso sinto profundo agrado. Desde que analfabetos e idiotas têm, a partir da irrevogável autoridade com que estão investidos, um lugar para expor a sua profunda visão científica da realidade, sinto que também a minha ignorância se pode expandir e ser partilhada. O que seria de mim se os broncos não pudessem falar, pergunto-me, enquanto uma ambulância passa veloz em direcção ao hospital.