sábado, 16 de fevereiro de 2019

Grandeza maior

O presente é uma caravana parada em nenhures. De que substância será feito? De água, que desliza lentamente sobre o leito de um rio cheio de ciladas e fundões ameaçadores? De ar, que se enovela e turbilhona, como se trouxesse na alma um áspero anseio de caos? Os sábados são propícios aos metafísicos de província, penso eu, encerrado no meu invencível paroquialismo. Ao menos aquele par de namorados vai avenida fora, mãos dadas, recebendo o calor que o fogo do sol envia para sua beatitude. E nesse ir nota-se já o rumor do futuro e a ruína que sobre o amor cairá. Se eu fosse um metafísico urbano, tudo seria mais grandioso e exacto. Avaliaria as proposições sob o rigor das leis da lógica, mas aqui na província é tudo mais penumbroso e à lógica, apesar de bela e tecida com os fios do rigor, ninguém dá dois dedos de conversa ou um minuto de atenção. E o pior é que se fica sem saber de que é feito o presente ou sequer o amor que unia o par de namorados de há pouco. Está um inverno seco, dizem-me. E eu inclino a cabeça e aquiesço sorrindo, sem ter nada para dizer. Não há grandeza maior do que a nossa nulidade.