Nos dias como o de hoje penso que deveria ter entrado para
um convento, numa daquelas ordens rigorosas, onde o silêncio impenetrável governa
despótico. E isso consola-me, ou distrai-me, da tagarelice a que sou obrigado.
Visto a partir da escuridão da noite o mundo é um artefacto estranho. Quanto
menos tenho para dizer mais ele me obriga a falar. Então sou assaltado pelas
imagens que um dia vi num filme sobre monges cartuxos. Logo faço do meu
escritório uma cartuxa privada, mas amanhã lá terei de partilhar com os outros
as minhas palavras, fingindo crer no que digo e que tenho alguma coisa para
dizer. Pura mentira. Tivesse eu entrado no convento, o mundo não teria perdido nada e a ordem estrita do silêncio
impediria que eu contaminasse o lugar com a minha garrulice. O melhor é mesmo
calar-me.
Foi o Die grosse Stille, do Philip Gröning?
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Maria
Sim, claro.
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