Quando caminhava por um dos passeios da Sá Carneiro, não sem
exagerada lentidão, os carros passavam afogueados, levados por um estranho
desejo que nunca consigo decifrar. É possível que essa ânsia seja mais simples
de explicar do que parece. Como as árvores aspiram a permanecer na imobilidade,
também os homens só se sentem como tal num vaivém que sempre me parecerá incompreensível.
Movimento e mobilização, eis a nossa época. Sentenciei presunçoso, enquanto
olhava para algumas árvores, cujos ramos insistem em desmentir a
proximidade da Primavera. Se eu fosse um deus misericordioso, alvitrei para mim
mesmo, daria aos homens um pouco da imobilidade com que as árvores foram
dotadas. Ganhariam raízes, seriam mais profundos, menos estouvados, elevariam
os braços aos céus e o mundo haveria de ser um lugar mais frequentável. Não sou
um deus e a misericórdia é uma virtude difícil, o melhor é apressar o passo e
mobilizar-me, pois o dia, esse cruel tirano, espera ainda muito de mim.
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