Nem sempre a realidade é como a vemos. Não foi uma meditação
filosófica que me levou à banalidade desta consideração, mas um engano na
identificação de alguém que passava na rua, no outro lado da estrada. Não deu
por nada, continuou no seu caminho pisando com firmeza o empedrado do passeio,
até que se esgueirou para dentro de um café. Na sua inconsciência, nem deu pelo
perigo de perder a identidade e tornar-se outra pessoa. Talvez seja isso que
acontece connosco. Vamos rua fora, metidos com os nossos pensamentos,
distraídos com o que está à nossa volta e, quando menos se espera, alguém nos
troca. Se nos descuidamos, tornamo-nos outros e corremos a risco de nunca mais
voltarmos a ser o que éramos, pensei preocupado, sem saber se eu não seria já
outro ou se ainda continuava a ser o que era.