Olho pela janela e digo estamos no Inverno. Depois observo a
palavra e gosto de a ver com maiúscula. Uma estação do ano não merece o
despropósito com que agora é tratada, tornando-lhe o início rasteiro, sem
perceberem que cada uma delas é um acontecimento único na sua repetição e que devem
ser consideradas como pessoas ou deuses, com as suas idiossincrasias, humores,
o ritmo secreto que as faz oscilar, o vigor ao entrarem em cena e o cansaço ao
despedirem-se da vida. A chuva persiste, constante na sua frieza, enquanto os
cedros do pequeno bosque ao fundo se erguem rígidos para o céu, indiferentes à
água que sobre eles cai. Na avenida, alguns transeuntes seguram guarda-chuvas,
mas correm a abrigar-se. Os carros passam, criam pequenos tsunamis que se levantam violentos e logo morrem, sem que nenhuma
devastação aconteça. É sexta-feira, embora o corpo não acredite que o
fim-de-semana se aproxima. Remexo-me na cadeira e medito no que ainda hoje
terei de fazer. Ao longe, o edifício do hospital lembra-me uma ruína, o sinal
de um mundo acabado que persiste difuso na memória dos vivos. Não pára de
chover e talvez fosse apenas isto o que queria dizer.
Acho que se calhar dancei excessivamente...A tribo não me ensinou devidamente o ritual:)
ResponderEliminar~CC~
E deu no que deu, água por tudo o que é sítio.
EliminarHV