Não há dias mais gloriosos que os frios banhados pelo sol.
Olho para a frase e lembro-me de um poema de Eugénio de Andrade que começa
assim Obedecem-me agora muito menos, / as palavras. Penso na sorte que ele teve
por ter havido um tempo em que elas lhe acataram as ordens. A mim sempre
recusaram submissão, talvez por falta de talento para usar nelas a rédea ou
o chicote. Ocorreu-me agora um dito de Nietzsche sobre a necessidade de levar o
chicote, mas recuso-me a partilhá-lo não vá ofender a sensibilidade da época.
Também é possível que a máxima do filósofo alemão não quisesse dizer nada, nem
aquilo que nela está dito nem aquilo que nela se subentende. Seria apenas o
esplendor de um dia de Inverno em que a neve cintila sob a luz impiedosa do
sol, um exercício de pirotecnia para semear o céu com fogos-fátuos e a terra
com invólucros destroçados pelo rebentar da pólvora. Passa-me pela cabeça que
não se deve confiar em filósofos, principalmente se são alemães, mas também
devo abjurar este pensamento, tão pouco ao gosto dos dias que correm. Como eu
quereria dizer se frequentas as palavras, não esqueças o chicote. Não o digo,
pois não foi a vocação de domador aquela que os deuses depositaram nas volutas
do meu código genético.
Querem ver que ainda precisaremos de uma petição para salvar os adjectivos dessa morte anunciada?!
ResponderEliminar~CC~
Talvez. Há a longa tradição que a prosa ou a poesia adjectivada é má. O adjectivo ressente-se dessa má fama literária.
EliminarHV