No facebook
alguém, para sustentar uma certa posição sobre determinado assunto, coloca um link para uma entrevista dada ao
Expresso por um especialista da matéria, a qual não vem ao caso. Como um cão
segue uma pista, também eu sigo a ligação e ponho-me a ler, até que que começo
a achar uma certa estranheza no conteúdo. Procuro a data e descubro que é de
2008. Não é a primeira nem a segunda vez que isto me acontece, mas hoje foi uma
revelação. O tempo foi abolido. A eternidade desceu dos céus, digitalizou-se e
passeia-se na terra. Não posso esconder que isso me perturbou um pouco. Cada um
tem um estilo e o meu passa por cultivar um certo anacronismo. Se tudo agora é
eterno, até o meu anacronismo se torna em sincronismo, que palavra
desagradável esta, apesar do seu pedigree
ser autêntico. Lá se vai o estilo perdido no magma da indiferenciação, foi a
reacção que se desenhou na minha cabeça. Há pouco entrei num café, sentei-me e
olhei à volta. Apenas duas mesas estavam ocupadas, cada uma por um homem a ler
o jornal, ambos mais velhos que eu. Estavam empenhados na leitura, voltavam as
páginas com uma certa ânsia. Suspeitei, não sem razão, que eles pudessem estar
a ler jornais de 2008 ou mesmo de antes. Seja o que for o que estivessem a ler
deve agora entender-se sub specie
aeternitatis, que é uma forma pretensiosa de um anacrónico sem-abrigo dizer
do ponto de vista da eternidade.
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