O Outono despede-se invernoso, irado pela aproximação do dia em que o carrasco fará deslizar pelo seu pescoço o gélido fio da guilhotina. Visto da janela o espectáculo da resistência outonal faz recordar um velho guerreiro que trava o seu último combate. Há sabedoria no modo como maneja a lança da chuva e a espada do vento, há nobreza na face envelhecida que enfrenta a condenação. Indiferentes ou temerosas da refrega, as pessoas fecham-se em casa e, embrulhadas nas suas lareiras, sonham com dias primaveris, enquanto os gatos ronronam ao calor. Um ou outro louco caminha na rua sem guarda-chuva, encharcado, como se fosse um penitente que se lava na água caída dos céus. As iluminações de Natal derramam tristeza pela cidade e trazem à memória, como contraponto, os dias em que tudo era mais frugal e eu mais ingénuo. O vento percute a persiana e lá dentro uma velha canção de Natal deixa cair as notas sobre os presépios. A Virgem demora-se na espera e S. José, longe da carpintaria, parece inquieto e deslocado. O silêncio tomou conta dos seus corações como a água se apoderou da terra.
Pois é, HV, o Solstício de Inverno está mesmo a chegar...
ResponderEliminarCompreendo a resistência do Outono, mas preferia que ele não tivesse resistido tanto e, sobretudo, que não tivesse enviado a Elsa de má memória (ao contrário da leoa, que era uma querida); com a minha casa só protegida a norte, deu mesmo para assustar.
Eu sei que Portugal quer estar em todas, mas caramba, porquê na rota dos furacões, depressões, etc. e tal?
Uma sexta calma, se possível.
🌨🌩⛈
Maria
De facto, o Outono escusava de resistir tanto, poderia entregar-se com mais mansidão.
EliminarUm boa sexta-feira.
HV